sábado, 7 de maio de 2011

A ANÁLISE DO DISCURSO ANALISA A LITERATURA: PROPOSTA DE TRABALHO PARA ALUNOS DO CURSO DE LETRAS UEPA-ACARÁ


O MIL VEZES FRACASSADO EUTANÁZIO



EDINALDO MIRANDA
JOÃO ELIZIO DA ROCHA NETO
NATALINA ABREU CORRÊA
NAZARÉ HELENA VAZ DA CONCEIÇÃO

RESUMO: Chove nos Campos de Cachoeira, de DalcÍdio Jurandir retrata o início da saga do menino Alfredo, essa obra, a primeira do Ciclo do Extremo Norte, particularmente da maior ênfase ao personagem de Eutanázio, coprotagonista da história, oscilando entre documentário e autobiografia, colocando lado a lado as notas psicológicas e as líricas, narra a trajetória existencial de um homem um homem perante um universo dramático do preconceito e seus conflitos interiores. Esse escritor paraense que ficou esquecido durante tanto tempo, talvez porque, seu modo de falar dos problemas sociais passasse antes pela subjetividade. Exceto alguns estudos esparsos, só a partir da década de 1990 passou a ser pesquisado mais sistematicamente, embora ainda de modo localizado, oferecendo facetas diversas, a obra dalcidiana permite as mais diversas abordagens, por meio da análise de personagens, desse autor que seguramente não pode circunscrever-se nos limites da Amazônia. Uma voz grave, quase sussurrada, foi à escolha de Dalcídio Jurandir para contar a existência dos habitantes do Extremo Norte. Este escritor marajoara optou por um tom menor, bem abaixo do utilizado por Alberto Rangel, Euclides da Cunha e outros: afinal, o ciclo da borracha terminara e a decadência começou a tomar conta da cena. Os heróis se foram e no palco restaram apenas os até então vistos apenas como coadjuvantes, as pessoas comuns, vivendo o seu dia-a-dia.

PALAVRAS-CHAVES: Eutanázio. Anti-herói. Universal



INTRODUÇÃO
Esta análise tem por finalidade apresentar de modo claro e conciso a abordagem possível ao estudar a obra romanesca de Dalcídio Jurandir, nosso foco incidirá na personagem do Eutanázio e no universo em que transita justamente para não perdermos de vista o olhar social do autor e para podermos justificar a complexidade e excelência de sua literatura, o que, cremos, engrossará o caudal daqueles que tentam tirar esse escritor do limbo e delinear novas páginas para a História da Literatura Brasileira. Chove nos campos de cachoeira é uma vasta narrativa de aprendizagem, obedece ao fluxo histórico do tempo, com personagens recorrentes, em meio a outras que saem de cena após cumprir o seu papel. Oscilando entre documentário e autobiografia, colocando lado a lado as notas psicológicas e as líricas, narra a trajetória existencial de um homem um homem perante um universo dramático do preconceito e seus conflitos interiores.
Chove nos campos de Cachoeira é a obra introdutória do ciclo do Extremo Norte, e na qual se inicia o trajeto de Alfredo, herói dalcidiano de todo o ciclo, embora especificamente nesta primeira obra o destaque seja o coprotagonista, o mil vezes fracassado Eutanázio, seu irmão mais velho doente e depressivo, é um personagem central e herói agônico que encerra seu percurso cedendo lugar a Alfredo que inicia o seu. O universo caboclo é apresentado através de linguagem profundamente elaborada, em discursos íntimos que revelam sentimentos e dramas existenciais. Mesmo levando-se em conta sua natureza ficcional, é inegável abastecer-se da rememoração e dessa forma estabelece um intenso e duplo diálogo: por um lado refletindo a realidade do dia a dia dos caboclos, e por outro penetrando nas suas questões de fé, seu sofrimento íntimo, sua solidão, sua busca por razões e ultimicidade, em suma, suas questões de alma.
Esse escritor paraense que ficou esquecido durante tanto tempo, talvez porque, seu modo de falar dos problemas sociais passasse antes pela subjetividade. Exceto alguns estudos esparsos, só a partir da década de 1990 passou a ser pesquisado mais sistematicamente, embora ainda de modo localizado, oferecendo facetas diversas, a obra dalcidiana permite as mais diversas abordagens, por meio da análise de personagens, desse autor que seguramente não pode circunscrever-se nos limites da Amazônia.
REFERENCIAL TEÓRICO
A Palavra intertextualidade foi à primeira considerada como bakhtiniana, a ganhar o prestígio no Ocidente, isso graças à obra de Julia Kristeva, que em 1967, publica na Critique, uma longa discussão acerca das teorias bakhtiniana, a preocupação da semioticista era discutir o texto literário. Segundo ela, para Bakhtin, o discurso literário “não é um ponto, mas um cruzamento de superfícies textuais, um diálogo de escrituras” (Kristeva, 1967, p.439) Todo texto constrói-se, ”como um mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de um outro texto”(idem,p.440). Em sua leitura da obra de Bakhtin, Kristeva identifica discurso e texto: O discurso (o texto) é um cruzamento de discursos (de textos) em que se lê, pelo menos, um outro discurso(texto)”(idem,p.84). Afirma ainda que, no lugar da noção de intersubjetividade, instala-se a de intertextualidade
Falar sobre a obra de dalcidiana significa não só rever a escrita da história da literatura brasileira, mas também ser consciente das particularidades da obra: a estrutura do romance moderno. O reconhecimento a esse autor caracteriza-se melhor como rememoração: tirar do esquecimento da história da literatura, da história dos vencedores, a história dos vencidos. Dalcídio Jurandir faz parte do grito do absurdo na literatura moderna brasileira: através do grito do personagem Eutanázio em Chove nos Campos de Cachoeira, primeiro romance do “Ciclo do Extremo Norte”, escrito 1929, publicado 1941. O anti-herói, personagem central Eutanázio, morre para dar vida ao Alfredo, herói dalcidiano — os heróis dos romances estão na ‘vertical’ da sociedade, ao construir o “quadro romanesco sobre a vida paraense em termos de ficção”, não se sujeitou a normas pré-determinadas, mas se tornou cantor de “uma aristocracia de pé no chão”, posto retratar principalmente pobres e decaídos nos dez volumes de Extremo Norte.
Para Roland Barthes: o texto é “a superfície fenomênica da obra literária: é o tecido das palavras utilizadas na obra e organizadas de maneira a impor um sentido estável e tanto quanto possível único”. A linguagem estava dividida em duas regiões distintas e heterogêneas para fins de analise: a lingüística, e a retórica. Barthes propugna a constituição de uma semanálise, o texto, diverso daqueles dos campos do conhecimento. Em Bakhtin, a questão do interdiscurso aparece sob o nome de dialogismo, equivale a diálogo. Há dois tipos de dialogismo: o entre interlocutores e o entre discurso. Os homens não tem acesso direto à realidade, pois nossa relação com ela é sempre mediada pela linguagem, nosso discurso não se relaciona diretamente com as coisas, mas com outros discursos. O dialogismo é o modo de funcionamento real da linguagem, uma vez que todo discurso concreto encontra o objeto para o qual está voltado sempre, desacreditado, contestado, avaliado, envolvido por sua névoa escura, pelo contrario, iluminado pelos discursos de outrem que já falaram sobre ele.
Algumas características marcam a obra de Dalcídio Jurandir como obra literária: a linguagem altamente poética, o recurso lingüístico moderno: o discurso indireto livre (veja bem no início do Chove nos campos de Cachoeira, o encontro Eutanázio – Dona Gemi) que Mikhail Bakhtin (1999) conceitua como fenômeno de pensamento, o tempo da narração/narrativa: somente 3 a 4 meses passam, na verdade, só 4 dias constroem o plano da narração do Chove, 16 dos 20 capítulos e poucos anos para todo Ciclo de dez romances. A cor local, regional e nacional caracteriza a geografia dos acontecimentos, dos personagens e dos autores, mas não são critérios estéticos ou genéricos. A essência da história, dos conflitos, dos sentimentos e pensamentos expressa a qualidade humana como tal. Separar a linguagem da realidade permite duas percepções: a realidade que vivemos no presente que se torna logo imaginária, pois estamos no eterno presente da memória. A linguagem permite a recriação da realidade como imaginária. Facticidade e imaginação se confundem. E a linguagem poética há uma dinâmica própria, as imagens se confundem com a musicalidade enquanto leitura, o que funciona como o enredo de um romance realista.
Enquanto o tempo da interseção, o psicológico irrompe e questiona esta estrutura simbólica e dá voz a “instabilidade oculta” do discurso dominante da História. O topo da narrativa dalcidiana não é nem a idéia do realismo e do social (embora auto declarado e visível), nem o regional-folclórico do norte, do amazônida, mas uma estranha e fascinante temporalidade do um e do outro: do universal e do local. Nos discursos das personagens em Chove nos Campos, mais precisamente de seu Eutanázio o autor tem uma idéia bem realista, pois expõe os sentimentos mais obscuros e perversos de uma pessoa amarga e infeliz, seria como menciona Lacan “a linguagem é a condição do inconsciente” (apud, Mussalim 2001, p 107)

METODOLOGIA
Embora tenha sido bastante premiado em vida, a obra de Dalcídio Jurandir não ganhou o reconhecimento merecido dentro do cenário da literatura nacional nem se tornou conhecida do grande público. Pode-se dizer que a falta de acesso aos seus livros, esgotados há vários anos, contribuiu bastante para isso. No entanto, seu talento chamou a atenção desde a primeira obra. Chove nos Campos de Cachoeira recebeu o primeiro lugar no Concurso Literário Nacional, instituído pelo jornal Dom Casmurro e pela Editora Vecchi, em 1940. A comissão julgadora contava com nomes de peso, como Jorge Amado, Oswald de Andrade e Raquel de Queiroz. Chove nos Campos de Cachoeira é o primeiro livro da série intitulada "Ciclo do Extremo-Norte". Os dez volumes, publicados até 1978, traçam um irretocável painel da vida amazônica, envolvendo dramas humanos e questões sociais que permanecem atuais. O conjunto da obra de Dalcídio recebeu, em 1972, o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras.
A obra dalcidiana “O Ciclo do Extremo Norte”, escrita entre 1939 e 1978, quebra com uma tradição literária sobre a Amazônia, marcada pela grandiloqüência de imagens, na tentativa de revelar uma natureza opulenta e majestosa. , o autor traça um painel da Amazônia pós auge do ciclo da borracha e nos revela as fantasmagorias desse ciclo econômico na região. É visível o trabalho de Dalcídio Jurandir em aprimorar as técnicas narrativas de romance em romance, no sentido de produzir uma obra sempre inovadora, que já começa, na década de trinta, distanciada do naturalismo de grande parte da produção da década, e termina próxima das boas obras dos anos setenta, apresentando o esfacelamento como um de seus traços de composição. Chove nos campos de Cachoeira é vista como uma espécie de detalhe ampliado do que já constava do quadro traçado no romance inaugural: uma comunidade assentada sobre as diferenças sociais, determinadas pela estrutura latifundiária.
É nesta obra também que o entrelaçamento com a literatura popular mais se evidencia, a personagem Alfredo, está presente em nove das dez narrativas que compõem o Ciclo do Extremo Norte. É ele quem conduz o leitor não só pelos espaços sinalizados pela ruína, pela decadência, mas também pelos caminhos de sua interioridade, reconstituindo a trajetória de menino a homem feito. Caminho percorrido em dupla, diga-se, porque sempre acompanhado da sombra de seu meio-irmão, o fracassado Eutanázio, O escritor se impõe a liberdade de criar ou de retratar seus personagens das narrativas sem censurá-los, sem moralismo e com maior ou menor distanciamento ou discrição. O romancista seleciona e escolhe quem representar e, a partir das anotações acerca de imagens recorrentes apresentadas, deixa ou faz com que seus personagens se apropriem das imagens observadas (lembranças registradas em algum momento de sua vida), manifestando, assim, o seu desejo de vê-las reproduzidas e difundidas. O autor Dalcídio Jurandir nasceu no Marajó, era, sem dúvida, um escritor geograficamente enraizado em suas obras, que ora elegia a ruralidade ora a urbanidade ou as relações entre elas como objetos de sua percepção.

Dalcídio Jurandir Ramos Pereira nasceu na Vila de Ponta de Pedras, Ilha de Marajó, em 10 de janeiro de 1909, e faleceu no Rio, em 16 de junho de 1979. Marcam-lhe a trajetória de vida a atuação esquerdista e a atividade jornalística emparelhadas à produção de vasta obra literária. Em Vila de Cachoeira (Marajó), viveu os doze primeiros anos e aprendeu a- ler com a mãe, Margarida Ramos. Membro ativo do partido Comunista, a partir de 1922, parte para viagem para várias cidades do interior do Pará e para o Rio de Janeiro, colaborou no periódico Terra Imatura. Aos vinte anos iniciou-se ficcionista, escrevendo o que se pode denominar primeira versão do livro Chove nos campos de Cachoeira, isso em1939, que o lançaria, em 1940 no cenário nacional, quando foi premiado no concurso instituído pelo jornal Dom Casmurro e pela Editora Vecchi. Sua obra somente foi publicada no ano seguinte, mas inicia, então, a concretização do projeto de traçar em dez romances um quadro da vida paraense, sob o título geral de Extremo Norte. Em 1972 recebeu prêmio da Academia Brasileira de Letras pelo conjunto de suas obras, em 1978 publicou seu último romance do Ciclo do Extremo Norte. Faleceu em 16 de junho de 1979, no Rio de Janeiro.

A geração literária de Belém na década de 20 destacou-se pela revista “Belém Nova”, foi um subterfúgio usado para a compreensão do que estava acontecendo no âmbito literário e intelectual, a literatura local era encaminhada para renovação se instalava no país, através da produção do intercambio entre intelectuais e outros estados. Dalcidio Jurandir foi redator do periódico Terra Imatura, que circulou durante o período da 2ª guerra mundial, no momento em que Belém passava por transformações urbanas, e as pessoas por mudanças de comportamento, após o fechamento da revista a vida literária local estagnou.


ANÁLISE
O trabalho de análise resultou para observarmos as particularidades que definem uma obra chamada de literatura, pois os personagens dalcidianos embora sejam habitantes de uma periferia do mundo e refletem as dores sociais e dramas existenciais de caráter comum. Personagens que, na sua individualidade, expressam o coletivo nortista, brasileiro e também universal. Fica explícita sua obstinação em penetrar o íntimo da subjetividade humana e extrair disso o fundamento de sua opção ideológica, suas meticulosas observações sobre modo de vida, os hábitos, as visões de mundo, os sonhos, os dramas individuais e coletivos, são a farta matéria prima a partir da qual o autor elabora seus romances.
“A ideologia é bem um sistema de representações, são na maior parte imagens, conceitos que se impõem á maioria dos homens, sem passar por suas consciências”. (Althusser,1970)
Jurandir foi um leitor atento e apaixonado do romance do século XIX, particularmente do romance russo. Envolvido com o ideal da “objetividade” do estilo realista/naturalista, mas sensível ao mundo subjetivo e psicológico de Dostoievski, Jurandir busca seu próprio caminho na poesia, criando na sua obra de uma visibilidade externa (Chove nos campos de Cachoeira, Três Casas e um Rio, Marajó, etc.). Podemos chamar todos os títulos do “Ciclo do Extremo Norte”, por “necessidade” cultural-ideológica. É mais do que uma introspecção de Eutanázio; é a sondagem existencial de um grupo de seres humanos: os ribeirinhos do interior do Pará, os habitantes da Ilha de Marajó, reconhecendo a ligação dialética entre o coletivo e o individual. O grito na obra de Dalcídio Jurandir é o grito existencial diante do vazio do abandono, do ribeirinho, o grito de um sujeito saindo da “existência inautêntica, mergulhando no anonimato total”. Eutanázio e Alfredo não são habitantes dos centros, mas as experiências individuais deles, como personagens, envolvem “todo o árduo de contar da própria coletividade”.
Em Chove nos campos de Cachoeira, Eutanásio é um homem de quase 40 anos, solteiro, solitário, taciturno, sente desprezo e é desprezado pela vida, teve uma infância infeliz, numa de suas introspecções, acredita que sua mãe lhe “botou no mundo”, a gravidez fora uma ”prisão de ventre de nove meses e sua mãe parira um excremento” (p 22). Os sonhos vieram abaixo como paredões desabados, pelo fato de nunca poder fazer o que ele desejava não seguir carreira na profissão que escolhera ser sempre motivo de chacota das irmãs e do pai, que ignoravam, repudiavam os pequenos poemas escritos por ele. Cresceu em Belém, onde queria ser General, talvez pelo fato de seu pai ser Major, desenvolveu um certo desejo e fascinação por guerras, figuras de assassinatos, apedrejava os cães, molestava as galinhas e feria a molecada. Mais tarde quis ser enfermeiro e praticava o oficio nas galinhas, nos cães, em todos os bichos que lhe pareciam necessitados de socorro, porém tudo foi por água abaixo quando um galo que ele cuidava da asa lhe bicou o dedo. Eutanásio é descrito desgraçadamente, pois até sua felicidade estava no desdém de Irene, que o repudiava e o ridicularizava. No trecho da obra que fala em relação à Felícia “mesmo pelo fato de ela estar talvez doente era como uma abstenção que o tentava” (p 26), sugere auto punição, além de todos seus conflitos internos, em que se escancaram os sentimentos, as incompreensões, as frustrações e os sofrimentos mais profundos, ainda faltava algo, a doença que o deixara podre em vida, o personagem, aponta seu sentimento de luto suicida e autodestruição, que o acompanham desde o nascimento.
O discurso literário “não é um ponto, mas um cruzamento de superfícies textuais, um diálogo de várias escrituras”. Todo texto constrói-se: como um mosaico de citações. Todo texto é absorção e transformação de um outro texto.(Kristeva,1967, p 440)
O regionalismo é a característica mais marcante das obras desse escritor paraense, defensor fervoroso de nossas raízes, é um fabulista popular, engajado na reconstituição do mundo ao redor da Amazônia, num estilo singelo, permeável a coloquialismos e expressões locais. Estas mesmas características encontraram nas obras de Jorge Amado, que tem sua marca registrada, o regionalismo bastante apurado e convincente, assim como personagens descritos de uma maneira que podemos vislumbrá-los dentro de uma realidade. Observamos nos personagens do livro Capitães de Areia de Jorge Amado (1937), um deles em particular o Sem Pernas, uma analogia a o Eutanázio, o lado do mestiço, dos favelados, dos proletários, também o caboclo ribeirinho é retratado, colocando a arte e a literatura com uma função pública e política perante a sociedade, sentimento de brasilidade na busca de uma arte verdadeiramente nacional traz à tona os retratos do povo comum.
Tal diálogo entre a literatura e a realidade, em Dalcídio Jurandir adquire o caráter de drama humano e de denúncia, nisso consiste, em grande medida, o profundo significado dessa obra, que traz a mostra o ser humano pobre, desconhecido, aleijado das decisões sobre seu próprio destino, restando ao final somente o desabar, decair, prostrar-se em desesperança. Não foi a toa que o nome escolhido pelo autor para o personagem, Eutanázio, já contém em si uma identificação sugestiva: thanatos, em grego, morte, que ultrapassa o sentido físico e toma o sentido de um princípio de existência, e que neste sentido se opõe ao eros. O sentimento masoquista do desejo, de prazer e alívio pela morte O drama íntimo de Eutanázio se exaspera na paixão não correspondida por Irene. Novamente a ironia do autor em nominar personagem: eirenê, paz em grego. Irene não é a paz, pelo contrário, é a angústia e maior razão do auto-aniquilamento de Eutanázio.



CONSIDERAÇÕES FINAIS
A relevância do trabalho é a valorização da cultura popular, analisada a partir de novos paradigmas, incorporando o passado e as tradições nacionais, não como elementos estáticos, mas como ferramentas da criação. Dessa forma, o passado, a tradição, o primitivo, como fontes de um sentimentalismo original, passam a ser incorporados aos novos elementos modernos. Neste sentido, a obra literária, e particularmente a obra dalcidiana, representa um acervo inestimável e um modo de acesso privilegiado. A profundidade com que Dalcídio Jurandir retrata a cultura popular do Marajó, incluindo suas lendas e mitos, faz muito mais do que uma descrição, mas um resgate fundamental para a preservação da cultura amazônica marajoara. Isso nos sugere que sua obra significa uma importantíssima transição da oralidade para o texto escrito.
Não concordamos com muitos críticos que colocaram as obras de Dalcidio Jurandir como mera expressão do folclore popular amazônico, chamando suas obras de regionalismo documentalista, de apenas um quadro de costumes, lendas, modismos, festas e ditos populares. Pois só agora recente tornaram-se fundamentos para uma nova recepção: a relação do oral e da escrita, técnica narrativa, evolução estilística. Concluímos que podemos identificar em muitas outras obras um Eutanázio, no meio dos meninos de Capitães da Areia, de Jorge Amado, como encontrá-lo no personagem Heathcliff, o cigano de O morro dos ventos uivantes, de Emily Bronte, são personagens que refletem as dores sociais e dramas existenciais de caráter universal.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALTHUSSER, l. Ideologia e aparelhos ideológicos do estudo. Trad. J.J. Moura Ramos. Lisboa, Presença/Martins Fontes, 1974. (título original, 1970).
AMADO, Jorge. Capitães da Areia. 80ª ed. Rio de Janeiro, 1995.
BRONTE, Emily, O Morro dos Ventos Uivantes: o amor nunca morre. Trad. A. M. Chaves. – São Paulo : Lua de Papel, 2009.
FIORIN, José Luiz. Interdiscursividade e Intertextualidade. Tendências da Análise do Discurso. In: Cadernos de Estudos Lingüísticos. Campinas, UNICAMP- IEL, N. 19, jul./dez. 1990.
JURANDIR, Dalcidio. Chove nos Campos de Cachoeira. -ed. Especial- Belém: Cejup/ Secult, 1997.
KRISTEVA, Julia. Bakhtine, le mot, le dialogique et le roman. Critique. Revue générale de publications. Paris, v. 29, fascículo 239, abr. 1967, PP. 438-65.
MUSSALIN, Fernanda. A Análise do Discurso. In MUSSALIN, F. BENTES, Anna Christina. Introdução à Linguística 2 – domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001.






ANÁLISE DO LIVRO VIDAS SECAS DE GRACILIANO RAMOS
Edimilson Lobato da Silva
Raimundo Zaire Soares da Cruz
Sergio de Sousa Lourinho
Valdenilson Modesto Carneiro




RESUMO
Esta obra publicada em 1938 nos mostra uma família do sertão nordestino, pobre e que estão em busca de um local para viver. Fabiano que é o chefe da família, junto com sua esposa Sinhá Vitória, seus dois filhos e a cachorra baleia estão de mudança, quando encontram uma casa que parece estar abandonada e decidem passar a noite naquele local. O que eles não esperavam é que o dono da casa aparecesse e é justamente o que acontece, o mesmo ameaça expulsá-los, Fabiano fazendo-se de desentendido, implora por trabalho e isso faz com que eles fiquem na fazenda. Passa-se um ano e Fabiano já é empregado da fazenda, no entanto não recebe seu salário dignamente, um dia indo à cidade fazer compras para Sinhá Vitória, Fabiano é convidado por um soldado para jogar baralho com outros apostadores, começou a apostar todo o seu salário, que não era muito, e quando percebeu que estava perdendo resolveu sair de mancinho sem se despedir, foi quando Fabiano acabou sendo abordado pelo soldado, momento em que inicia-se uma discussão entre os personagens. O soldado chama a policia e o retirante (Fabiano) acaba sendo preso acusado injustamente e também é agredido com um facão. A figura do soldado simboliza o governo e, com isto, o autor quer passar a idéia de que não é só a seca que faz do retirante um bicho, mas também as arbitrariedades cometidas pela autoridade. Enquanto isso, Sinhá Vitória está em casa com as crianças. Uma vez que o marido deseja um dia saber expressar-se bem, diante dos demais, a mulher deseja apenas possuir uma cama de couro, parecida com a de seu Tomás da bolandeira, senhor culto que é uma referência na cidade. Ela acaba relembrando a viagem, a morte do papagaio, o medo da seca e a presença do marido que lhe dá segurança. A obra continua sendo construída em quadros com os seus capítulos independentes e que não se articulam formalmente entre si, tem um quadro para o menino mais novo, outro para o menino mais velho, outro para o inverno, a festa, a baleia, as contas, o soldado amarelo, o mundo coberto de penas e finalmente a fuga, que acontece quando a esposa junta-se ao marido e sonham juntos. O livro termina com uma mistura de sonhos, frustração e descrença. Fabiano mata um bezerro, salga a carne e partem de madrugada para o sul.

PALAVRAS CHAVES – Trabalho. Frustração. Sonho.

OBJETIVO:
Analisar o romance Vidas Secas, a presença e a predominância dos aparelhos ideológicos de estado e dos aparelhos repressivos de Estado, suas ideologias e também a manifestação de como acontece na obra o discurso e o interdiscurso.

REFERENCIAL TEORICO:

Na metáfora marxista do edifício social, percebemos que a infraestrutura (base econômica) determina a superestrutura (instâncias político-jurídicas e ideológicas). A grande vantagem teórica desta metáfora é o fato de fazer ver que as questões de determinação são capitais, mostra que é a base que determina todo o edifício e obriga a refletir acerca do tipo de eficácia derivada da superestrutura, sobre sua autonomia relativa e a ação de retorno da superestrutura sobre a base.
Nesta metáfora, ou seja, nesta relação de classes, encontramos ainda os Aparelhos Repressivos do Estado (ARE) e os Aparelhos Ideológicos de Estado (AIEs). Estes Aparelhos não se confundem, pois o Repressivo funciona através do emprego da força “violência”, enquanto que a ideologia é utilizada para os demais como por exemplo: família, escola, judiciário, igreja, partidos políticos, sindicatos e outros. Faz uma distinção entre o poder do estado e o aparelho do estado, sendo o ultimo o corpo das instituições que constituem o Aparelho Repressivo do Estado e o corpo de instituições que representam o corpo dos Aparelhos Ideológicos de Estado.
Existe um único Aparelho (repressivo) de Estado, enquanto que existe uma pluralidade de Aparelhos Ideológicos de Estado.
Podemos concluir que é uma estratégia política que prega a luta a se travar fora do estado em sentido amplo, pois não considera a ideologia como algo determinado no processo de produção, preferindo vê-la como atribuição do Estado, com o objetivo de assegurar a determinação. Através do Estado, a classe dominante monta um aparelho de coerção e de repressão social, que lhe permite exercer o poder sobre toda a sociedade, fazendo submeter-se às regras políticas. O grande instrumento do Estado é o direito, isto é, o estabelecimento de leis que regulam as relações sociais em proveito dos dominantes. Através do Direito, o Estado aparece como legal, ou seja, como “Estado de direito”. A dominação de uma classe é substituída pela idéia de interesse geral encarnado pelo Estado.

METODOLOGIA:
PESQUISA BIBLIOGRÁFICA:
 Vidas Secas de Graciliano Ramos;
 Análise do discurso de Fernanda Mussalim;
 O primado da prática: uma quarta época para a análise do discurso de Nelson Barros da Costa;
 Interdiscursividade e Intertextualidade de José Luiz Fiorin.

ANÁLISE:
A base econômica do capitalismo tal como ele foi compreendido pelas teorias Marxistas. As relações de produção implicam divisão de trabalho entre aqueles que são donos do capital e aqueles que vendem a mão-de-obra. Esse modo de produção é a base econômica da sociedade capitalista.
Partindo desse pressuposto, nos reportamos à época em que vivem o Nordestino Fabiano e sua família, em uma verdadeira peregrinação, sofrida sem expectativas de mudanças, vivendo sob uma ideologia dominante, ora imposta pelo patrão da fazenda, ora pelo estado, na forma de seu representante legal o soldado amarelo.
Althusser levanta a necessidade de se considerar que a infra-estrutura determina a superestrutura, ou seja, que a base econômica é que determina o funcionamento das instâncias político-jurídicas e ideológicas de uma sociedade.
Fernanda Mussalim afirma que o que tradicionalmente se chama de Estado é um aparelho repressivo do Estado (ARE), que funciona movido “pela violência” e cuja ação é complementada por instituições – a escola, a religião, por exemplo, que funcionam “pela ideologia” e são denominadas aparelhos ideológicos de Estado (AIE).
Dentro desse contexto, ao lermos a obra Vidas Secas compartilhamos o sofrimento vivido por Fabiano, um homem rústico, aparentemente alcoólatra, viciado em jogo e que é brutalmente perturbado, seja por sua vida material, seja por seu psicológico, que o inflama e distorce todo o seu patamar de vida transformando-o, por vezes, em um feroz chegando às virtudes de um louco parecido com um animal.
Fabiano e sua família são levados a conviver com a ideologia repugnante, imposta a eles como um meio de vida, ou seja, sempre conviveram desta forma e por mais que busquem realizar seus sonhos nunca conseguirão, a humilhação imposta aos mesmos e o sofrimento pelos quais eles passam, pelo seu próprio contexto histórico e que atinge toda uma esfera regida pelo estado onde o mesmo não consegue suprir as necessidades básicas do povo que vive a mercê, jogados à própria sorte e debaixo somente da supremacia divina.
O sofrimento imposto, tanto pelos órgãos repressores do Estado, como pela ideologia exorbitante, condena desde o mais faminto ser humano até o mais obscuro dos sonhos a não ter acesso e respeito, aos mais puros sentimentos de alivio de seus fardos e ao mais nobre dos preceitos da humanidade: “o respeito à vida”.
Citando José Luis Fiorin, podemos notar o interdiscurso, ou seja, o discurso do personagem Fabiano, dentro do discurso do narrador o autor Graciliano Ramos.
Apesar de serem apenas monólogos ou impulsos e retruncos, Fabiano com toda sua falta de cultura não deixa de ser um enunciador, um produtor de algo, ou melhor, um propagador de sofrimentos, apesar de poucos relatos de sua fala ou de seus monólogos.
Bakhtin, aborda o dialogismo que é a forma particular de composição do discurso e também é o modo de funcionamento real da linguagem e portanto é seu principio constitutivo.
Os homens não tem acesso direto a realidade, pois nossa relação com ela é sempre mediada pela linguagem, isto significa que o nosso discurso não se relaciona diretamente com as coisas, mas com outros discursos, que semiotizam o mundo. Essa relação entre discurso é o dialogismo que é o modo de funcionamento real da linguagem. (FIORIN, p.167).
Assim voltando ao personagem Fabiano é perceptível, em alguns momentos, o autor ressaltar a fala do mesmo que apesar de sua desgraça, sua falta de sorte e sua repugnação, deixa escapar por vezes, seus sonhos em forma de expressões e de palavras, pois como vimos “não existe objeto que não seja cercado em volto, embebido em discurso, todo discurso dialoga com outros discursos, toda palavra é cercada de outras palavras”. (BAKHTIN, 1992, p. 319).
Em um terceiro momento, nos aportamos aos conhecimentos e aos estudos de Nelson Barros da Costa, onde mais uma vez nos remonta às idéias de Karl Marx (1987ª, 1987b, 1987, com Engels) e especialmente da leitura que delas fez o filósofo Louis Althusser (2001, 1979a, 1979b). Segundo essa concepção, os homens ao se agruparem para garantir a produção material da vida, os homens teriam criado formações sociais, estruturas fundadas na divisão do trabalho. Tal divisão teria sido baseada, inicialmente, nas aptidões físicas dos indivíduos e, posteriormente, na apropriação do excedente de produção por um grupo e pela conseqüente separação entre trabalho manual e intelectual. A sociedade assim dividida em classes precisou constituir meios que assegurassem a coesão social, o que daí por diante consistiria na reprodução dos mecanismos de exploração de classe.
Conforme Althusser (2001), o conjunto desses mecanismos seria articulado pelo estado, instância de poder constituída pela classe dominante com a missão de “assegurar (...) as condições políticas da reprodução das relações de produção que são em ultima análise relações de exploração” (p. 56).
Esses mecanismos teriam duas formas básicas de atuação: a repressão e a ideologia. (NELSON BARROS, 2005, p. 18).
Com esses conceitos, ainda podemos notar que as ideologias, juntamente com a repressão, ainda são preponderantes até os dias atuais, não deixando assim de encurralar e atropelar os sonhos daqueles que são menosprezados por uma sociedade cada vez menos igualitária e propagadora de direitos iguais para todos, crucificando principalmente, neste caso o povo nordestino, que é citado na obra de Graciliano Ramos, como é o caso de nosso personagem Fabiano e de sua família.

BIOGRAFIA
VIDA E OBRA DE GRACILIANO RAMOS
Graciliano Ramos nasceu em Quebrângulo, Alagoas, em outubro de 1892. Onde viveu durante sua infância e parte da adolescência. O primeiro dos quinze filhos, Graciliano Ramos foi sempre visto pela família como um sujeito difícil, taciturno e introspectivo. Fez os estudos secundários em Maceió, sem, no entanto, cursar nenhuma faculdade. O pai vivia do comércio e o filho mais velho foi aventurar-se: esteve, por breve período, no Rio de Janeiro, onde, por volta de 1914, trabalhou como revisor e redator nos jornais Correio da Manhã e A Tarde. Volta ao Nordeste e passa a ser jornalista, fazendo política também. Foi prefeito de Palmeira dos Índios entre os anos de 1928 e 1930. É dessa época o seu primeiro romance (Caetés, 1933). De 1930 a 1936 vive em Maceió, dirigindo a Imprensa e a Instrução do Estado de Alagoas. De março de 1936 a janeiro de 1937, vive a época mais difícil de sua vida. Acusado de subversivo e comunista, passa dez meses de prisão em prisão sem saber do que o acusam, sem sequer ser ouvido em depoimentos ou processos.
Desse tempo terrível, nascerá mais tarde Memórias do Cárcere, um relato que soma a angústia de existir, o medo e a inquietação. Muda-se para o Rio de Janeiro. Seus romances, histórias para crianças e artigos passam a ser reconhecidos como o maior legado literário desde Machado de Assis. Em 1945, filia-se ao Partido Comunista Brasileiro e, em 1952, viaja para a Rússia e países comunistas; o que presenciou nessa peregrinação está contido num outro livro: Viagem (1954). Em 1953, morre no Rio, vítima de câncer. Suas obras já foram traduzidas para o russo, francês, inglês, alemão. E, em 1964, o romance Vidas Secas ganhou versão cinematográfica pelas mãos de Nélson Pereira dos Santos.

CONCLUSÃO:
Esta obra que é um grande clássico da literatura universal é classificada como um Romance, no entanto, alguns autores chegam a classificá-la como conto, outros como sendo uma novela, mas o que se pode dizer verdadeiramente é que vemos na obra um grande drama do retirante (Fabiano) e sua família, que a todo custo desejam fugir da seca e que vivem em extrema pobreza, os quais vivem um relacionamento seco e doloroso, a história conta com os seguintes participantes: Fabiano o chefe da família, Sinhá Vitória, sua mulher, o menino mais novo, o menino mais velho, a cadela Baleia e o papagaio completam o grupo de retirantes.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. São Paulo: Record, 2000.
MUSSALIN, Fernanda. A Análise do Discurso. In MUSSALIN, F. BENTES, Anna Christina. Introdução à Linguística 2 – domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001.
FIORIN, J. L. Tendências da Análise do Discurso. In: Cadernos de Estudos Linguísticos. Campinas, UNICAMP – IEL, n. 19, Jul./dez., 1990.





ANÁLISE DO LIVRO “DOIDINHO
Cristiane P. Monteiro Paiva
Francisca Rodrigues Wanzeler
Rosangela do S. O. Ferreira



RESUMO:
O Livro “Doidinho” é um romance brasileiro escrito por José Lins do Rego, publicado em 1933. O título do livro é o apelido que Carlos de Melo, agora com 12 anos, narra às experiências do personagem como interno em um colégio severo. É uma das três primeiras narrativas do autor com o Menino do Engenho e Banguê, que constituem o Ciclo da cana de açúcar. A obra narra às experiências do menino Carlos de Melo (Doidinho), como um aluno do Instituto Nossa Senhora do Carmo, sobre o comando do professor Maciel, um homem “opressor”, no modo de educar seus alunos, pois o seu maior instrumento de educação era o uso da palmatória, além dos castigos impostos por ele. Carlos sofre na pele as injustiças cometidas pelo diretor, e tem como desejo retornar ao engenho Santa Rosa do avô José Paulino. O Livro trata de temas relevantes, como a Pedagogia de Ensino (palmatória), o desejo de voltar ao lar, educação tradicional, a religião, as questões sociais.

Palavras - chave: Educação tradicional. Pedagogia de ensino. Questões sociais.



1.INTRODUÇÃO:
O Romance de José Lins do Rego “Doidinho” é uma obra que tem como tema principal a “Educação Tradicional”, de um Colégio regido por um professor rigoroso no modo de educar, que tem como pedagogia de ensino a tão cruel palmatória. O colégio como um todo, o diretor, os alunos e os funcionários são a representação de uma sociedade injusta e repressiva, contra a qual o protagonista se opõe. A obra foi escolhida por abordar diversos temas relevantes para a educação atual, em que irá contribuir positivamente no ensino aprendizagem de alunos de todas as idades, pois esta obra vem mostrar aos leitores as injustiças e opressões sofridas pelos alunos do colégio Nossa Senhora do Carmo. O que faz despertar em Doidinho o enorme desejo de retorno ao seio familiar, porém ao mesmo tempo sentia grande vontade de aprender e se tornar uma pessoa culta.
A Obra “Doidinho” é de grande importância para a literatura por ser um Romance Memoralístco Regionalista, pois fala sobre os engenhos de cana açúcar na Paraíba e suas riquezas, depois suas decadências e a aparição das usinas.
O objetivo deste trabalho é analisar o discurso pedagógico do ensino (tradicional), que é tratado na obra de José Lins do Rego, abordando temas secundários como: A consciência social e a família, contribuir com ensino aprendizagem e alcançar melhores resultados na educação. Contribuindo assim para um melhor desempenho em sala de aula.
2) REFERENCIAL TEÓRICO:
Este estudo tem como fundamento teórico a contribuição de alguns estudiosos citados abaixo, que foram fundamentais para a realização deste trabalho. Althusser (1970 apud Mussalim, 2001, p. 104), vem trabalhar com os Aparelhos Ideológicos do Estado, fazendo uma releitura de Marx, distingue uma “teoria das ideologias particulares”, que exprimem posições de classe de uma “teoria de uma ideologia em geral”, que permitiria evidenciar o mecanismo responsável pela reprodução das relações de produção, comum a todas as ideologias particulares.
Brait (2005, apud Fiorin, 2006, p. 178), vem trabalhar com a concepção de enunciado, que não se encontra pronta e acabada numa determinada obra, num determinado texto: O sentido e as particularidades vão sendo construído ao longo conjunto das obras. [...] O enunciado concreto, visto desta perspectiva teórica poderá, ao longo de outras obras, serem substituído ou difundido na idéia de palavra, de texto, de discurso.
Barthes (1994 apud Fiorin, 2006, p. 164), vem trabalhar esse conceito de intertextualidade; “Todo texto é um intertexto; outros textos estão presentes nele, em níveis variáveis, sob formas mais ou menos reconhecíveis”. Como observa Barthes, na medida em que a prática significante, em que desconstrói e reconstrói a língua, em que é o lugar de constituição do sujeito, em que seu modo de funcionamento real é a relação constitutiva com outros textos.
Fiorin (2006, p. 181), afirma que, “as relações dentro do texto ocorrem quando as duas vozes se acham no interior de um mesmo texto”. No entanto pode- se ter essa relação quando o texto se relaciona dialogicamente com outro.
Esta produção encontra- se organizada em tópicos que estão ordenados na seguinte forma: 1) Introdução, 2) Referencial teórico 3) Análise dos dados, 4) Metodologia, 5) Pesquisa bibliográfica, 6) Análise da obra, 7) Considerações finais, 8) Resultados alcançados, 9) Referência bibliográfica.
3) ANÁLISE DOS DADOS
Na Obra “Doidinho” a técnica de narração usada por José Lins do Rego, para denunciar os problemas sociais da época, segue de certa forma o caminho inverso do livro “Menino de Engenho”. Em Doidinho o próprio narrador encontra- se inserido na obra, confundindo- se com o personagem: Pois segundo FIORIN (2006, 181), “as relações do texto ocorrem quando as duas vozes se acham no interior de um mesmo texto”.
A obra é um romance de internato, lembra o “Ateneu” de Raul Pompéia, sem dúvida, não há afiliação, mas ponto de contato. Como, por exemplo, o nervosismo, a luta corporal com o colega, a recordação da prima morta, entre outras semelhanças. O próprio autor no fim de Menino de Engenho pela boca de Carlos de Melo recorda o Ateneu:
“Eu não sabia nada. Levava para o colégio um corpo sacudido pelas paixões de homem feito e uma alma mais velha do que meu corpo. Aquele Sérgio de Raul Pompéia entrava no internato de cabelos grandes e com alma de anjo cheirando a virgindade. Eu não: era sabendo de tudo adiantado nos anos, que ia atravessar a porta do meu colégio”. (REGO, 1933, P. 18).
Observa- se no trecho acima a relação de intertextualida. “Todo texto é um intertexto; outros textos estão presentes nele, em níveis variáveis, sob formas mais ou menos reconhecíveis” (Barthes, 1994 apud Fiorin, 2006, p. 164). A intertextualidade é a maneira real de construção do texto (Idem, Ibid).
Doidinho é uma espécie de continuação de Menino de engenho. O livro de estréia termina com o anúncio de que Carlinhos iria para um Colégio de padres e Doidinho começa com a admissão do menino no Instituto Nossa Senhora do Carmo, de Itabaiana.
Como [...] é próprio do pensamento Bakhtiniano, a concepção do enunciado /enunciação não se encontra pronta e acabada numa determinada obra, num determinado texto: O sentido e as particularidades vão sendo construído ao longo conjunto das obras. [...] O enunciado concreto, visto desta perspectiva teórica poderá, ao longo de outras obras, poderá ser substituído ou difundido na idéia de palavra, de texto, de discurso. (BRAIT, 2005 apud FIORIN, 2006, p. 178).
Na obra “Doidinho” o professor Maciel (diretor) por ser muito severo no modo de educar seus alunos, era visto como um verdadeiro tirano, suas aulas eram sempre tensas, qualquer falha como, erros de leitura, conversas paralelas dos meninos era motivo para castigos repreensivos, como a palmatória.
O trecho acima aborda o que Althusser (1990), vem chamar de Aparelhos ideológicos de estado,
que funciona pela “violência” e cuja ação é complementada por instituições – a escola, a igreja, por exemplo, pela maneira como se estruturam e agem esses aparelhos ideológicos, por meio de suas práticas e de seus discursos. Trata- se para Althusser, do funcionamento da ideologia dominante, pois, mesmo que as ideologias apresentadas pelo AIE sejam contraditórias, tal contradição se inscreve no domínio da ideologia dominante. (ALTHUSSER, 1990 apud MUSSALIM, 2003, p. 104).

4) METODOLOGIA:
Para relialização deste trabalho, foi utilizada a obra de José Lins do Rego “Doidinho”. Com sequências de vários encontros entre os componentes do grupo. O primeiro encontro foi no dia 26 de março, das 8 às 16h. O segundo foi nos dias 1 e 2 de abril das 9 as 17h, e o terceiro encontro nos dias 7 e 8 de abril. No dia 7 nos reunimos das 15 às 20:30 h, e no dia 8, das 9 às 18:00h.
Foi realizada a leitura individual e em grupo, pesquisa na biblioteca, e leituras complementares dos textos:
- Interdiscursividade e Intertextualidade de José Luiz Fiorin
- Análise do Discurso de Fernanda Mussalim

5) ANÁLISE DO LIVRO:
O livro “Doidinho” fala de um menino que sai do engenho, de uma vida cheia de aventuras, de regalias de menino do campo, para uma vida totalmente oposta aos seus costumes, que é o internato. Carlinhos como era chamado no engenho Santa Rosa, recebeu o apelido de doidinho, por seus colegas, por um ser um menino inquieto, impaciente, e por seu constante nervosismo.
Nota- se em Carlinhos uma criatura cheia de ternura, muito flexivo ao humano, sofre constantemente a nostalgia do meio rural e isso lhe dá uma visão de fragilidade. O aspecto da corrupção ou da miséria como se atenua diante das reservas de ternura espontânea do personagem, isso o faz um eterno sofredor da melancolia, do pavor da morte, da separação da sua gente, Carlinhos via em seu avô “Jose Paulino”, tudo de bom, era um avô patriarcal que lhe inspirava segurança, honestidade e poder aquisitivo para lhe custear nas necessidades.
A entrada de Carlos de Melo no internato do Colégio de Itabaiana marca o primeiro afastamento do engenho de Santa Rosa e da sua família “era a primeira vez que me separava de minha gente”.
Isto provoca uma grande melancolia ao longo de toda a obra que se nota através da saudade expressa por Carlos: “E aos poucos, como uma dor que viesse picando devagarzinho”. “A saudade do Santa Rosa me invadiu a alma inteira”. Carlinhos lembrava- se sempre de seu avô, os moleques, os campos, as negras, o gado, tudo me parecia perdido, muito de longe, de um mundo a que não podia mais voltar. “Sentia de fato uma imensa saudade do engenho”.
“O internato foi para ele um castigo brutal, uma insuportável prisão. A sua dignidade de neto de senhor de engenho lhe dava vantagens, privilégios”. E nesse momento começa a surgir em Doidinho a consciência social, a descoberta das diferenças de classe, de que existem na sociedade.
A formação discursiva abordado na obra é o Discurso pedagógico, que é construído na figura do professor Maciel (diretor). Uma pessoa autoritária, que tinha os alunos como sendo submisso a ele, se referia aos meninos com gritos, e os castigava com bolos de palmatória, e seu semblante era sempre fechado, não havia diálogo entre professor e aluno, e não permitia em nenhum momento conversas paralelas entre alunos de seu Instituto. Na frase abaixo, é perceptível a severidade de seu Maciel com seus alunos, quando o diretor surpreende Carlinhos conversando com o colega e pergunta:
- Que conversas são essas? Não quero maroteiras aqui.
- Seu doudo, quer fazer do meu colégio bagaceira de engenho, esta muito enganado, e aquele outro babaquara me paga!
E seis bolos cantaram na mão de doidinho, que ficou em pé em frente a mesa oprimindo os soluços que e levavam com o protesto de sua sensibilidade machucada.
5) PESQUISA BIBLIOGRÁFICA:
Um dos maiores nomes da literatura brasileira, José Lins do Rego Cavalcanti nasceu em 1901, no Estado da Paraíba, e morreu em 1957 na cidade do Rio de Janeiro. Viveu a maior parte de sua vida em Recife, cidade onde se formou em Direito. A partir de 1936, passou a viver na cidade do Rio de Janeiro. O mundo rural das fazendas, senzalas e engenhos do início do século XX foi a inspiração para sua obra. Publicou a primeiro livro Menino de engenho, em 1932.
Aos 25 anos mudou- se para Maceió (AL), onde conviveu com um grupo de escritores muito especial: Graciliano Ramos, Raquel de Queiros, Aurélio Buarque de Holanda, que se tornariam seus amigos para sempre.
O dia a dia e os costumes tanto de Pernambuco quanto do Rio de Janeiro eram evidentes em suas obras literárias. Ele deu início ao conhecido Ciclo da Cana-de-açúcar com a obra: Menino de Engenho, além deste livro, este notável escritor escreveu outros livros, como: Doidinho, Banguê, O Moleque Ricardo e Usina.
A partir de então, Zélins, como era chamado, não conheceu interrupções: publicou doze romances, um volume de memórias e livros de viagens, de conferências e de crônica. Este notável escritor foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 1955, e teve suas obras traduzidas para diferentes idiomas, entre eles, o russo. Antes de morrer, escreveu um livro de memórias chamado: Meus Verdes Anos.


6) CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A análise da obra de José Lins do Rego “Doidinho” nos faz refletir como é importante ser tratado esse tema do ensino tradicional em sala de aula, contribuindo para a formação acadêmica do professor, que esse método de ensino seja revisto e modificado, que os erros ocorridos no passado não ocorram no ensino atual. Trata de temas relevantes tais como: as questões sociais, a família, a discriminação, o preconceito, a violência pelo uso da palmatória.
Apesar do ensino tradicional já ter sido extinto ha bastante tempo, ainda há profissionais da área que fazem uso desse método de ensino em sala de aula, não permitindo que o estudante expresse suas idéias, e dê opiniões, que poderiam vir a contribuir com o professor.
A história de doidinho nos faz entender que este método de ensino tradicional visto nesta obra jamais deverá ser aplicado em sala de aula, pois remete a impressão de ser mais tortura do que aprendizagem. O professor deve demonstrar a seus alunos que entre discente e docente deve haver reciprocidade, colaboração, afeto, respeito mútuo, para que tenhamos uma sociedade justa e comprometida com a cidadania.



REFERÊNCIA BILIOGRÁFICA:
ALTHUSSER, L. Ideologia e aparelhos ideológicos do estado. Trad. J. J. Moura Ramos. Lisboa, presença/ Martins Fontes, 1970.
BARTHES, Roland. Text (Teórie Du).In: Oeuvres completes. Paris: Seuil, 1994.
BRAINT, Beth (org.) Bakhtin: Conceitos –chave. São Paulo: contexto, 2005.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário. 4ª edição. Ed. Especial para FNDE/ PNLD 2001.







Análise do livro “O cortiço”, de Aluísio Azevedo,
à luz da Análise do Discurso

Alberto Espíndula Cardoso
Anderson Magno Pires Castro
Deise de Goes Cardoso
Laércio César da Cruz




RESUMO
Este trabalho faz uma análise do romance “O cortiço”, de Aluísio Azevedo, principal expoente do naturalismo no Brasil. Essa análise é feita com base nos princípios da Análise do Discurso, tendo ponto de vista principal a concepção bakhtiniana a respeito da linguagem de seu processo de construção e representação desse processo. São analisadas as diversas formações discursivas presentes no romance em questão, usando para isso os elementos que evidenciam essas formações discursivas dentro da obra. Partindo do pressuposto de que toda formação ideológica governa uma formação discursiva e que esta é representa na forma de intertextualidade e interdiscursividade, faz-se um estudo sobre a presença desses dois últimos termos na construção dos discursos presentes no livro de Azevedo, com base na obra de Mikhail Bakhtin e sua concepção de que os discursos vivem em constante diálogo uns com os outros e que este dialogismo é condição essencial para a existência da linguagem.

Palavras chaves: Intertextualidade. Interdiscursividade. Discurso.


INTRODUÇÃO
As teorias da Analise do Discurso, a obra de Mikhail Bakhtin, por exemplo, vêem a linguagem como um processo interativo onde a construção dos discursos se dá de maneira dialógica, ou seja, um discurso dialoga com outro durante o processo de sua construção. Os traços mais evidentes desse diálogo entre os vários discursos presentes numa formação discursiva são a intertextualidade e a interdiscursividade, que na visão de Bakhtin têm características distintas: a primeira refere-se aos elementos materiais que, dentro de um discurso, remetem imediatamente a outro discurso; a outra é qualquer relação entre discurso no plano do sentido. Foi tomado como corpus alguns trechos da obra “O cortiço”, de Aluísio Azevedo em que se pode depreender a relação entre discursos de forma material (intertextualidade) e constitutiva (interdiscursividade), sempre com base na teoria de Bakhtin. A obra “O cortiço”, foi escolhida por fazer um retrato meticuloso da sociedade brasileira do final do período imperial, explicitando as relações entre as diversas classes sociais e entre os indivíduos que se encontram no mesmo extrato social. O objetivo dessa análise é demonstrar as diferentes formações discursivas que se fazem presentes na obra, tomando por base os elementos que as denunciam: a intertextualidade e a interdiscursividade, à luz da teoria Bakhtiniana, e como se relacionam os discursos oriundos das mais variadas formações discursivas. Em razão das semelhanças entre os conceitos que vários estudiosos atribuem aos mais variados termos usados na Análise do Discurso, mais adiante encontram-se alguns desses conceitos e seus respectivos autores. Este trabalho é composto por esta introdução, onde pretendemos localizar o leitor a respeito do trabalho, seguida do referencial teórico que serviu de suporte ao estudo, onde se encontram os conceitos citados anteriormente e algumas considerações a respeito deles. Na seção seguinte está a metodologia de construção deste trabalho. Após isso, se encontra a análise da obra com base nos teóricos da Análise do Discurso tendo como principal suporte a visão Bakhtiniana de discurso. Finalmente, encontram-se as considerações finais sobre esse trabalho de análise.

REFERENCIAL TEÓRICO
Falar em intertextualidade e interdiscursividade implica, antes de tudo, conceituar texto e discurso, além de dar uma noção os conceitos de outros termos usados na Análise do Discurso, para fins de entendimento.
No uso comum, o termo texto é usado para denominar um entrelaçamento, uma tessitura, de palavras em que se possa inferir sentido, onde ele, por si, basta para constituir sentido. Na Análise do Discurso, o uso desse termo é mais restrito, não tem a abrangência nem comporta exatamente o significado do uso comum.
BARTHES (apud FIORIN, p. 164) conceitua o texto como sendo um:
“aparelho translingüístico que redistribui a ordem da língua colocando em relação uma palavra comunicativa, que visa à informação direta, com diferentes enunciados anteriores ou sincrônicos”.
Assim, o texto pode ser entendido como algo entrelaçado por outros textos onde, o sujeito, fazendo uso de elementos lingüísticos, pode explicitar suas intenções comunicativas, que por sua vez reproduzem a formação discursiva.
Quanto ao discurso, para Mussalim (2001), “a AD concebe o discurso como uma manifestação, uma materialização da ideologia decorrente do modo de organização dos modos de produção social”.
Segundo Fiorin:
“O discurso deve ser entendido como uma abstração: uma posição social considerada fora das relações dialógicas, vista como uma identidade. O discurso é apenas a realidade aparente (mas realidade), de que os falantes concebem seu discurso autonomamente, dão a ele uma identidade social. Entretanto, no seu funcionamento real, a linguagem é dialógica” (p.181).

Já o conceito de formação discursiva ou prática discursiva é oriundo de Foucault, que o entende como:
“um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço que definiram em uma época dada, e para uma área social, econômica, geográfica ou linguística dada, as condições de exercício da função enunciativa” (Foucault apud Mussalim, p. 119).
Essa formação discursiva é, segundo Mussalim reflexo da formação ideológica incutida em cada sujeito, mesmo que de forma inconsciente: o sujeito enuncia de uma determinada posição não porque quer, mas porque aquela posição, que lhe é atribuída pela “máquina discursiva”, que determina as possibilidades e o sentido de seu enunciado. É no embate, no confronto, na aliança, na dominação existente entre as formações discursivas que se constitui a formação ideológica do sujeito e, apesar da relação entre as formações discursivas ser uma condição para a constituição da formação ideológica, aquela é subordinada a esta, visto que o discurso é uma manifestação da ideologia.
Pêcheux (apud Mussalim) define formação ideológica:
“um conjunto complexo de atitudes e de representações que não são nem ‘individuais’, nem ‘universais’, mas se relacionam mais ou menos diretamente a posições de classe em conflito uma com as outras” (Pêcheux Apud Mussalim, p. 124).
Como a formação ideológica governa formação discursiva, e esta é perceptível com base no discurso do sujeito, e os elementos capazes de explicitar essa formação ideológica são o texto e o discurso.
Quando Maingueneau diz que “o discurso é assumido pelo sujeito”, não quer dizer que essa incorporação se dá de modo consciente, pois segundo a psicanálise lacaniana o sujeito é clivado, dividido ente o consciente e o inconsciente, e este o leva a assumir uma determinada posição já predeterminada pela máquina discursiva, aí encontramos uma semelhança com o determinismo, no momento em que se admite que o sujeito é influenciado pelo meio, contudo, essa influência não se dá de modo unilateral, o sujeito também é capaz, através do discurso, de influenciar o discurso alheio.
Se os elementos que permitem analisar as formações discursivas e ideológicas são o texto e o discurso, e todo texto é um “mosaico de citações”, assim como o discurso é heterogêneo, ou seja, perfurado por outros discursos, faz-se necessário estudar a intertextualidade e a interdiscursividade.
Os conceitos de intertextualidade e interdiscursividade adotados nesse trabalho se baseiam na obra do filósofo russo Mikhail Bakhtin. Fiorin, com base na obra bakhtiniana adverte sobre a importância de diferenciar os usos desses dois termos. Segundo Fiorin:
“O termo intertextualidade fica reservado apenas para os casos em que a relação discursiva é materializada nos textos. Isso significa que a intertextualidade pressupõe sempre uma interdiscursividade, mas o contrário não é verdadeiro” (FIORIN, 181).
Esse conceito difere do que é atribuído por Fiorin à Interdiscursividade, também com base em Bakhtin: “Qualquer relação dialógica, na medida em que é uma relação de sentido” (FIORIN, 181). Assim, a intertextualidade constitui uma “modalidade” de interdiscursividade, visto que esta é todo tipo de dialogismo e aquela um tipo explícito, latente de dialogismo.
O conceito de interdiscursividade se aproxima de conceitos atribuídos a outros termos que circulam na Análise do Discurso, como por exemplo, a Heterogeneidade constitutiva do discurso, de Authier-Revuz (apud Costa), assim como a intertextualidade tem uma definição parecida com que a autora dá à Heterogeneidade marcada no discurso, contudo nos ateremos ao conceito de Fiorin firmado na teoria de Bakhtin sobre intertextualidade e interdiscursividade.


METODOLOGIA

O trabalho iniciou com a pesquisa bibliográfica. Foi analisada a obra “O cortiço” de Aluísio Azevedo, obra-prima do naturalismo brasileiro, publicado em 1890. Aluísio Tancredo Gonçalves Azevedo nasceu em São Luís no Maranhão em 14 de Abril de 1857 e morreu em Buenos Aires, Argentina, em 1913. Escreveu entre outras obras: O mulato, 1881; Memórias de um condenado, 1882; Filomena Borges, 1884; Casa de pensão, 1887. O teórico adotado nesse estudo foi o russo Mikhail Bakhtin, com seu conceito de interdiscursividade citado por José Luiz Fiorin no texto. A realização desse trabalho consistiu em leitura da obra base dessa análise e consequente confronto entre a teoria e a obra em de reuniões de grupo para discussão dos assuntos. Em seguida aconteceu a digitação e organização dos conteúdos para entrega e exposição.


ANÁLISE

Do ponto de vista da Análise do Discurso, o livro “O cortiço”, de Aluísio Azevedo oferece um rico suporte a ser trabalhado. A obra em questão dispõe de uma diversidade discursos e um constante embate entre eles, oriundos das mais variadas formações ideológicas. Vemos ao longo da obra que o autor faz um retrato da sociedade do subúrbio carioca do final do século XIX, com seus problemas sociais, especialmente a pobreza e a falta de moradia.
O modo de narração empregado por Azevedo dá a impressão que os moradores do cortiço se parecem com animais: “O escândalo assanhou a estalagem inteira, como um jato de água quente sobre um formigueiro” (p. 87).
Aluísio Azevedo dá vida a uma paisagem de tijolo e cimento: “
“Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da ultima guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia” (p 35).
Todos os tipos da sociedade suburbana carioca são pintados na obra de Azevedo: o ganancioso João Romão; a servil Bertoleza; a sensual Rita Baiana; a infiel Estela. A convivência de todos esses personagens não se dá de modo harmônico, há sempre um embate entre o discurso de um e de outro, além dos dilemas pessoais por que passa cada sujeito, ou seja, um diálogo constante o sujeito e seu subconsciente, que a AD entende como o diálogo entre o Eu e o Outro.
Seguindo a Linha de pensamento de Bakhtin, Fiorin entende que os elementos mais marcantes e perceptíveis desse embate durante a construção do discurso podem ser notados de duas formas: uma em que há elementos materiais de um discurso dentro de outro discurso – intertextualidade, conceito parecido com o “mosaico de citações” de Kristeva citado por Barthes; a segunda quando se percebe, na constituição de um discurso, a presença de outro, mesmo que implicitamente – interdiscursividade.
A intertextualidade, que baseada na obra de Bakhtin, Fiorin conceitua, é perceptível quando as personagens incorporam vozes exteriores às sua. Um exemplo disso é a cantiga das lavadeiras:
“Maricas tá marimbando,
Maricas tá marimbando,
Na passage do riacho
Maricas tá marimbando.” (p. 48)
Segundo Fiorin, Quando, no texto, são encontrados materialidades que remetem a outros textos, como é o caso da cantiga popular acima, temos a intertextualidade, ou seja, elementos perceptíveis de um texto dentro de outro, essa característica que Bakhtin chamou de dialogismo constitui um tipo específico de interdiscursividade.
O texto abaixo também apresenta essa característica, quando o autor faz uma paródia com a obra “Canção do Exílio do poeta romântico Gonçalves Dias: veja o trecho seguinte do poema:
“Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam;
Não gorjeiam como lá...” (p. 171)
Observe agora a construção da cantiga pronunciada por Jerônimo, um português saudoso da terra natal:
“Minha vida tem desgostos,
Que só eu sei compreender...
Quando me lembro da terra
Parece que vou morrer...” (p. 75)
Percebe-se, ao comparar os dois textos, que o autor do segundo tentou fazer uma paródia que transmitisse um sentimento oposto ao do autor do primeiro. No poema, Gonçalves Dias exalta a terra brasileira, no segundo exemplo, Azevedo usa da mesma métrica para expressar o oposto: o sentimento de saudade das terras lusitanas que dominavam o personagem Jerônimo. Segundo Fiorin, quando um texto remete a outro, ou seja, quando existem sinais materiais de um texto no outro se constitui a intertextualidade.
Vejamos mais um exemplo da intertextualidade na obra de Aluísio Azevedo:
“A guitarra! substituiu-a ela pelo violão baiano, e deu-lhe a ele uma rede, um cachimbo, e embebedou lhe os sonhos de amante prostrado com as suas cantigas do norte, tristes, deleitosas, em que há caboclinhos curupiras, que no sertão vêm pitar à beira das estradas em noites de lua clara, e querem que todo o viajante que vai passando lhes ceda fumo e cachaça, sem o que, ai deles! o curupira transforma-os em bicho-do-mato.” (p. 195).
Neste trecho, encontramos elementos materiais que pressupõem a existência de outro texto entrelaçado ao primeiro, no caso a narrativa popular indígena a cerca do Curupira.
A interdiscursividade também é latente na obra, pois em várias ocasiões é possível notar um embate entre as várias formações discursivas, esse embate que é reflexo das formações ideológicas, explicita os vários discursos. Percebe-se que os dilemas provocados por várias formações discursivas influenciam na vida dos personagens do cortiço. Um exemplo disso é o dilema em que se via o comerciante Miranda, que se sente dividido entre o ego e a necessidade de manter o status social
“Ainda antes de terminar o segundo ano de matrimônio, o Miranda pilhou-a em flagrante delito de adultério; ficou furioso e o seu primeiro impulso foi de mandá-la para o diabo junto com o cúmplice; mas a sua casa comercial garantia-se com o dote que ela trouxera, uns oitenta contos em prédios e ações da divida publica, de que se utilizava o desgraçado tanto quanto lhe permitia o regime dotal. Além de que, um rompimento brusco seria obra para escândalo, e, segundo a sua opinião, qualquer escândalo doméstico ficava muito mal a um negociante de certa ordem. Prezava, acima de tudo, a sua posição social e tremia só com a idéia de ver-se novamente pobre, sem recursos e sem coragem para recomeçar a vida, depois de se haver habituado a umas tantas regalias e afeito à hombridade de português rico que já não tem pátria na Europa.” (p. 17)

Neste trecho da obra, notamos a presença dos discursos que remetem o personagem a um conflito, zelar pela sua honra, “ficou furioso e o seu primeiro impulso foi de mandá-la para o diabo junto com o cúmplice”, porém o interesse no dote e posição social que possuía não permitia que tomasse tal decisão, “mas a sua casa comercial garantia-se com o dote que ela trouxera, [...]”. “Prezava, acima de tudo, a sua posição social e temia só com a idéia de ver-se novamente pobre, [...]”.
O primeiro discurso nos mostra a posição de um homem submetido a uma ideologia conservadora, ferido em seu ego, disposto a dar cabo da vida da própria mulher para lavar sua honra, em quanto que no segundo discurso mostra-se sendo um homem inescrupuloso que coloca acima de tudo o dinheiro e a posição social que possuía, mesmo que para isso tivesse que sofrer com as humilhações que sua esposa lhe proporcionava. Aí percebemos o diálogo entre consciente e inconsciente, na medida em que a reflexão (consciente) sobre as conseqüências de um ato impensado (inconsciente) o faz recuar da primeira posição.
Segundo a Análise do Discurso, o processo de constituição do discurso se dá mediante a relação de aliança, antagonismo e dominação ente as formações discursivas. No exemplo acima, percebe-se que há uma relação de antagonismo entre o discurso egoísta e discurso assujeitado, Miranda se sete sujeito aquela situação e enuncia a partir dela manifestando sua formação discursiva.
Outro exemplo de interdiscursividade é perceptível no trecho seguinte em que João Romão chega à conclusão que todas as privações e sofrimentos por que passara em busca de enriquecimento não o teriam feito feliz, visto que era rico, mas não gozava de sua riqueza.
“Fora uma besta!... pensou de si próprio, amargurado: Uma grande besta!... Pois não! Por que em tempo não tratara de habituar-se logo a certo modo de viver, como faziam tantos outros seus patrícios e colegas de profissão?... Por que, como eles, não aprendera a dançar? E não freqüentar sociedades carnavalescas? e não fora de vez em quando à Rua do Ouvidor e aos teatros e bailes, e corridas e a passeios?... Por que se não habituara com as roupas finas, e com o calçado justo, e com a bengala, e com o lenço, e com o charuto, e com o chapéu, e com a cerveja, e com tudo que os outros usavam naturalmente, sem precisar de privilégio para isso?... Maldita economia!”
Nesse fragmento João Romão evidencia pelo menos dois pontos de vista: o primeiro de um homem desgostoso da vida diante da impossibilidade de acessar uma camada social mais alta e participar das atividades da alta sociedade carioca, apesar do dinheiro que possuía e de todas as privações que sofreu resignado em busca de capital; a segunda é perceptível quando lemos o texto e ele nos remete a outro discurso, o discurso de sovina, do miserável. Não há no texto elementos textuais que deixem explícita a relação de dependência entre um discurso e outro, mas quando a personagem nega o discurso anterior ele nos remete diretamente a ele. Essa é uma das características da interdiscursividade, que está largamente presente na obra de Aluísio Azevedo. Retiramos os trechos citados anteriormente para fins de demonstração da heterogeneidade, ou dialogismo presentes na obra em questão. Segundo a AD esse dialogismo é uma constante no processo de constituição do discurso e é condição essencial para a existência da linguagem, pois segundo Bakhtin, a palavra vive no encontro com a outra, o discurso se constitui mediante o confronto com outro discurso, então o Eu existe em razão do Outro.


CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer dessa análise, notamos as diferentes formas de produção dos discursos de alguns personagens, discursos estes que além de remeter a discursos alheios traduzem os conflitos pessoais que constituem as ideologias dos sujeitos. No ponto de vista da Análise do Discurso, esse embate é constitutivo e evidencia uma formação ideológica do sujeito, surgindo uma relação de antagonismo ou dominação em que os discurso assumidos pelos sujeitos estão inserido numa formação discursiva, e esta, por sua vez é reflexo da ideologia incutida em cada personagem.
Nota-se nos exemplos citados, com base nas teorias da AD, uma influencia de discurso do Outro, assim como do próprio inconsciente (que também assume o papel do Outro em relação ao Eu) na constituição dos enunciados das personagens. O discurso do sujeito é influenciado pelo discurso do outro, passando a se constituir como um mosaico de vários discursos que evidenciam várias formações discursivas presentes na obra de Azevedo. A intertextualidade e a interdiscursividade latentes em “O cortiço” dão uma demonstração desse caráter dialógico inerente ao processo de constituição do enunciado. Esse diálogo entre os vários discursos, segundo a AD é elemento fundamental da formação discursiva do sujeito, e essa formação discursiva evidencia, através do enunciado, a formação ideológica de cada sujeito.


BIBLIOGRAFIA:
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Abril Cultural, 1981.
CEREJA, William R. & MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português Linguagens 1ª Ed. São Paulo: Atual Editora, 2003.
COSTA, Nelson Barros da, Práticas discursiva: exercícios analíticos. Campinas-SP: ¬¬-Pontes, 2005.



MENINO DE ENGENHO (LINS DO REGO):

A SEXUALIDADE PRECOCE


José Alberto Ribeiro, Miguel de Oliveira Sodré e Vitório Gonçalves da Silva.



Resumo

O romance, narrado em primeira pessoa, apresenta uma estrutura memorialista, em quarenta capítulos. O tempo flui cronologicamente: o narrador (Carlinhos) tem quatro anos quando a narrativa começa e doze, quando termina o livro. A linguagem: regional – termos e construções da linguagem oral – oralidade dos contadores e cantadores nordestinos. Conta-se a história de um menino Carlos de Melo que vai viver no engenho do avô, depois de a mãe (Clarisse, filha de senhor de engenho) ser assassinada pelo pai no quarto de dormir. Sempre estavam brigando, mas matá-la... Desconhece-se o motivo. O menino, apesar de pequeno, sente o impacto da morte da mãe e imensa solidão com sua perda. O pai é preso. Uma nova “vida”, um mundo novo o aguarda. Os acontecimentos na fase infantil constituem a personalidade dos indivíduos, determinam sua visão de mundo e suas escolhas. Isso é constatado no romance “Menino de Engenho” de José Lins do Rêgo, no qual Carlos de Melo passa por muitos conflitos pessoais que influenciam diretamente na construção de sua identidade.Diante disso, analisaremos a iniciação sexual do garoto, tornando assim, o principal tema estudado. Como objeto de pesquisa, revela inúmeras formas de comportamento do personagem, oscilando em prazer da masculinidade e arrependimentos de ser comparado com seus parentes (Avô e Tio), ausência de um ser superior na sua vida (cósmica, sobrenatural), todos esses problemas e muito outros é que fazem o texto maravilhoso, rico e que prende o leitor nas peripécias de Carlinhos.Uma relação dessa natureza não foi importante para a formação do sujeito somente na época em que se passa a trama, meados do século xx, ela é primordial até hoje. Estes desvios de comportamento podem acarretar para a vida, seqüelas difíceis de serem digeridos e resolvidos, mesmo nos dias atuais com o desenvolvimento secular os conflitos internos perduram e influenciam na maturação da pessoa até a fase adulta.

Introdução



A infância é a etapa de nossas vidas na qual começa a se forma a nossa personalidade. Por isso, acontecimento e escolhas nessa fase são decisivos para definir o caráter de um individuo. E nesse caso a família constitui a base de sustentação do indivíduo, o núcleo de decisões ou, ao menos, o ponto de partidas para sua tomada. Em “Menino de Engenho”, de José Lins do Rego, o protagonista Carlos de Melo vive justamente esse momento vital para sua formação cultural. As tragédias que o marcam geram conflitos que vão resultar numa criança inquieta e precoce.

Diante disso, analisar a sexualidade precoce do personagem Carlinhos, que antes dos doze anos de idade tem sua vida sexual bastante ativa. A narrativa nos conduz aos problemas íntimos do menino desorientado para a vida e para o sexo, vê o mundo, aprende o bem e o mal e chega a uma talvez precocidade acerca dos hábitos que lhe eram “proibidos”, mas inevitáveis de serem adquiridos.

Em meio aos relatos do cotidiano do engenho, suas festas e sua labuta, há espaço a sexualização precoce do protagonista, que se dá primeiro observando as coberturas dos bovinos e eqüinos e depois presenciando bestialidades.

Deste modo, fica até interessante a separação que tentará estabelecer entre seu histórico lascivo, aumentado pelas masturbações provocadas pela negra Luisa, e a paixão que vai desenvolver por uma prima civilizada, de Recife, Maria Clara. Tenta manter a menina longe da imagem sexual, mas sempre explode em sonhos, desejos fortes apesar de reprimida, conotação carnal.

Dessa forma, o inevitável ocorre. Agarra-se em chamegos a Zefa Cajá, mulher que era caso de quase todo mundo na região. Apesar das resistências dela, acaba se deixando seduzir e o adolescente inicia sua vida sexual.

Tomaremos como base para este trabalho alguns conceitos da psicanálise, como os de Freud; intertextualidade e interdiscursividade de Fiorin; sexualidade infantil, teoria de Freud; análise do discurso de Mussalim.

É notório o nível do comportamento sexual do personagem, que, no inicio do séc. XX, a sociedade ficava estarrecida com tudo o que estava acontecendo, era uma anormalidade, sustentado por vários problemas, como: a lacuna deixada pelos pais; a convivência no campo; êxodo rural; nível social diferenciados. Prima pela descoberta e dá ênfase no seu bel prazer. Percebe-se isso claramente ao longo da belíssima narrativa de “Menino de Engenho”.



METODOLOGIA:

A sexualidade precoce que foi a temática escolhida dentro da obra “Menino de Engenho” de Lins do Rego (1932) para o grupo desenvolver o contexto que na atualidade é um fator bastante abrangente.

Para realizarmos esse trabalho utilizamos diversas metodologias tais como: pesquisas (biblioteca, internet), debates entre a equipe, livros, referenciais teóricos e dicionário.

Lins do Rego utilizado neste trabalho em epigrafe viveu a maior parte de sua vida em Recife, ele nasceu em 1901, no Estado da Paraíba, e morreu em 1957 na cidade do Rio de Janeiro. Viveu a maior parte de sua vida em Recife, cidade onde se formou em Direito. A partir de 1936, passou a viver na cidade do Rio de Janeiro. O dia a dia e os costumes tanto de Pernambuco quanto do Rio de Janeiro eram evidentes em suas obras literárias.

Ele deu início ao conhecido Ciclo da Cana-de-Açúcar com a obra: Menino de Engenho. Além deste livro, este notável escritor escreveu outros livros, como: Doidinho, Banguê, O Moleque Ricardo e Usina. Este último possui narrativa descritiva do meio de vida nos engenhos e nas plantações de cana-de-açúcar do Nordeste. Em sua segunda fase, José Lins do Rego escreveu romances que tinham como tema a vida rural. Deste período, fazem parte as seguintes obras: Pureza, Pedra Bonita, Riacho Doce e Água Mãe. No ano de 1943 publicou o livro Fogo Morto, considerado a sua obra-prima; posteriormente escreveu Eurídice, Cangaceiros, alguns ensaios, crônicas e outras obras. Este notável escritor foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras e teve suas obras traduzidas para diferentes idiomas, entre eles, o russo. Antes de morrer, escreveu um livro de memórias chamado: Meus Verdes Anos.



ANÁLISE DO DISCURSO EM “MENINO DE ENGENHO” Lins do Rego



Destacaremos nessa analise a sexualidade precoce de Carlinhos personagem e narrador da obra Menino de Engenho de Lins do Rego. Iniciaremos essa AD com um breve histórico sobre Analise do Discurso.

Segundo Maldidier (1994), os precursores da Análise do Discurso foram o lingüista Jean Dubois e o filosofo Michel Pêcheux, ambos estudiosos profundamente envolvidos em compreender a política, os movimentos sociais e as lutas de classe, notadamente pelo viés markxista.

De que modo, então, o propósito político da AD poderia ser operacionalizado pela lingüística? Na fase embrionária da Análise do Discurso, destaca-se a contribuição do filosofo Althusser que, em 1970, apresenta uma releitura de Max em Ideologias e Aparelhos Ideológicos do Estado. Althusser (1970) categoriza as esferas de produção das ideologias no seio social por meio da identificação de duas grandes teorias: “teoria das ideologias particulares” e “teoria da ideologia geral”. Esta última deveria explicar os mecanismos por meio dos quais as ideologias particulares, de determinam as relações de produção e de classes, são geradas.

“Althusser (1970) parte do pressuposto de que as ideologias têm existência material, ou seja, devem ser estudadas não como idéias, mas um conjunto de práticas materiais que reproduzem as relações de produção. Trata-se de um materialismo histórico, que da ênfase a materialidade da existência, rompendo com a pretensão idealista de ciência de dominar o objeto de estudo controlando-o a partir de um procedimento administrável aplicável a um determinado universo, como se a sua existência se desse no nível das idéias”.

A lingüística, por meio dos procedimentos metodológicos dos estruturalistas, contribuiria para a depreensão e da descrição dos mecanismos das ideologias particulares. Circunscrevia-se, desse modo, a parceria entre a lingüística, a história e o pensamento filosófico, focado nas relações socioeconômicas.

Maingueneau afirmou em (1990) que “A lingüística caucionava tacitamente a linha de horizonte do estruturalismo na qual se inscreve o procedimento Althusseriano”

Para a AD o pressuposto de que: o “[discurso] materializa o contato entre o ideológico e o lingüístico no sentido de que ele representa no interior da língua os efeitos das contradições ideológicas” (Courtine, 1982, p. 240) é basilar. Desse modo, a Análise do Discurso não se contenta apenas com o superficial, no que se refere o texto. Antes, volta-se para o “exterior” lingüístico, como as condições sociohistoricas se repercutem no âmbito do domínio da linguagem. Propõe fazer uma leitura critica e reflexiva dos discursos que circulam socialmente e que, de algum modo, determinam nossas ações e nossos dizeres. Contudo busca equilibrar-se metodologicamente num tênue fio em que, de um lado, está à língua e, de outro, o produto opaco resultante de sua materialização: o discurso.

Em seu a ordem do discurso (Foucault, 2001) defende a hipótese de que em toda a sociedade a produção do discurso é simultaneamente controlada, selecionada, organizada e redistribuída por um certo numero de procedimentos que tem por papel exorcizar-lhe os poderes e os perigos, refrear-lhe o acontecimento aleatório, disfarçar a sua pesada, temível materialidade (p. 8-9).

Na obra Menino de Engenho de Lins do Rego, o personagem Carlinhos perde sua mãe aos quatro anos de idade, logo depois desse acontecimento ele vai morar com seu avô, o garoto sofre a ausência da família e caba por se desviar das boas condutas e inicia sua vida sexual muito cedo.

No seu cotidiano no engenho o jovem passa a observar as coberturas dos bovinos e dos eqüinos e também presenciando as bestialidades que ocorriam na fazendo, estes e outros acontecimentos dão espaço para a iniciação sexual precoce do protagonista. Diante desse contexto ele também sente uma atração muito forte pela negra Luísa, chegando a se masturbar de tanta fantasia que ele sonhava com ela.

O rapaz desenvolveu uma paixão por uma prima civilizada, que residia em Recife (Pernambuco), que atendia por nome de Maria Clara. Ele tenta manter a menina longe da sua imagem sexual, mas sempre explodem uns loucos desejos, apesar da reprimida conotação carnal.

O inevitável ocorre Carlinhos agarra-se em chamegos a Zéfa Cajá, que era uma mulher da vida e que mantinha caso com quase todos no engenho. Ela apresentava uma certa resistência, mas se deixou seduzir e acabou iniciando o rapaz sexualmente, como conseqüência disso ele contraiu doença venérea.

Podemos constatar esses fatos no capitulo 39 pagina 98:

“Tinha uns doze anos, quando conheci uma mulher, como homem, Andava atrás dela, beirando a sua tapera de palha, numa ânsia misturada de medo e de vergonha. Zefa Cajá era a grande mundana dos cabras do eito. Não me queria.

-Vá se criar, menino enxerido.

Mas eu ficava por perto, conversando com ela, olhando para a mulata com vontade mesmo de fazer coisa ruim. Ficou comigo uma porção de vezes”....

É importante ressaltar nessa análise que outro fator que contribuiu para a precocidade sexual dele, um moleque que se atende por nome de Zé Guedes e hoje um dos fatores que influenciam a sexualidade na adolescência são as más companhias. No capitulo 15 pagina 31 do livro podemos observar um fragmento referente a influência dessas companhias:

“-olha o menino, Zé Guedes! Ô homem desbocado! Mas ele pouco se importava comigo. Eu mesmo gostava de ouvir o bate-boca imundo. Pelo caminho o moleque continuava nas suas lições, falando de mulheres e de doenças do mundo, e nome por nome, ele dava de todas as doenças: cavalo, mula, crista-de-galo”.

No inicio do século vinte onde ocorre a narrativa do livro, não era muito comum manter relações sexuais no período da infância, visto que naquela época imperavam-se outros valores sociais. Hoje se percebe um índice maior de ocorrência desses fatos que são bastante debatidos, mas não se tem um controle definitivo sobre eles, que conseqüentemente contribui para os problemas sociais, econômicos, biológicos como as DSTs e psicológicos.

Freud em 1905 escreve três ensaios para uma teoria sexual; um deles é intitulado A sexualidade Infantil, ele mostra nesse trabalho que o impulso sexual humano- a pulsão sexual – pode ser dividido em pulsões parciais.



Freud demonstra que a pulsão sexual, da maneira como a percebemos em ação em um adulto, é composta de pulsões parciais, e podemos vê-las nas

preliminares de qualquer ato sexual. Antes do advento e do domínio de interesse genital, tais pulsões parciais são vividas livremente pela criança, cujo interesse pela cópula ainda não despertou.

Assim, podemos deduzir que essas pulsões ainda não dispõem de um objeto preciso para o qual possam se dirigir. A criança conduzirá seu impulso para um objeto sexual só quando puder reunir todas as pulsões para conformar a genitalidade. Antes desse momento, cada pulsão poderá se ligar, no Maximo, ao prazer que puder extrair do órgão e que estiver vinculado, como Poe exemplo, olho, no casa da contemplação; boca no caso da sucção do polegar etc. Como podemos ver, a criança dirige sua sexualidade para seu próprio corpo e só buscara outro corpo quando estiver em pleno desenvolvimento da genitalidade.

Freud afirma que as pulsões parciais possuem um caráter errático, ou seja, não se fixam como o instinto e são capazes de intercambiar ao objetos que lhes satisfazem, portanto, de uma certa maneira, a pulsão sexual pode trilhar vias socialmente úteis.

A CONTEXTUALIZAÇÃO DA SEXUALIDADE PRECOCE EM MENINO DE ENGENHO

Contextualizando a obra com os dias atuais, podemos perceber a importância do papel da família na questão da sexualidade, o contexto familiar tem relação direta com a época que se inicia a atividade sexual. Assim sendo, verificamos normalmente histórias se repetirem: as adolescentes que iniciam a vida sexual precocemente ou engravidam nesse período, geralmente, vêm de famílias ausentes cujo as mães também iniciaram a vida sexual precocemente ou engravidaram durante a adolescência.

A falta de informação decorrente da ausência de diálogo sobre o assunto pode levar a uma vida sexual desordenada e confusa para o adolescente. Muito tem se falado sobre o sexo, o acesso às informações é facilitado - principalmente através da Internet, mas o que tem acontecido é uma verdadeira explosão de informações sem ordenação. Fala-se bastante sobre o assunto, se compararmos com décadas anteriores, mas o tabu em relação ao sexo ainda é forte. O adulto que vai falar com os adolescentes sobre sexo e sexualidade, na maioria das vezes, veio de uma época em que o preconceito era muito grande e acabam por não saber lidar de forma coerente sobre o assunto.

O advento da tecnologia agravou ainda mais esse contexto, visto que, As mídias influenciam bastante a sexualidade precoce. Inclusive podemos observar que as crianças e os adolescentes de hoje, em sua maioria, preferem assistir televisão ou ficar navegando pela Internet do que ficar brincando ou desenvolvendo atividades fora do contexto virtual. As TV’s estão ligadas a maior parte do tempo e são assistidas por qualquer faixa etária, sem qualquer restrição. Crianças e adolescentes são invadidos por essa maneira de “experimentar” o mundo que acaba por moldar a sua forma de subjetivação - moldada aí na lei do consumo excessivo e na sexualidade precoce. Mesmo se os pais desejam dialogar com os filhos sobre sexo, a mídia já fez o seu papel na transmissão das inúmeras informações sexuais recheadas de clichês e estereótipos. Observamos também que um grande número de pré-adolescentes e adolescentes já apresenta suas crenças e seus valores sobre sexo, mesmo sem ter nenhuma experiência própria, baseadas na mídia. O que muito nos preocupa é o fato de o que pode acontecer quando se criam expectativas de imediata gratificação sexual, generalizada pela mídia, e que na vida real não são encontradas.

“A erotização está começando cada vez mais cedo e de forma intensa”, afirma a psicopedagoga Quézia Bombonatto, de São Paulo



A INTERTEXTUALIZAÇÃO EM “MENINO DE ENGENHO”

A palavra intertextualidade foi uma das primeiras, consideradas como bakhtinianas, a ganhar prestígios no ocidente. Isso se deu graças à obra de Júlia Kristeva.

Citando Kristeva, Barthes redefine o texto: “aparelho translinguistico que redistribui a ordem da língua colocando em relação a uma palavra comunicativa, que visa à informação direta, com diferentes enunciados anteriores ou sincrônicos” (idem,p. 1.680). Atribui a Kristeva, a elaboração dos principais conceitos teóricos implicados nessa noção de texto: pratica significantes, produtividade, significância, fenotexto e genotexto e intertextualidade. “todo texto é um intertexto; outros textos estão presentes nele, em níveis variáveis, sob formas mais ou menos conhecíveis” (idem.p.1683). “A intertextualidade é a maneira real da construção do texto (idem, ibid.)” .

Todo texto se organiza dentro de determinado gêneros em função das intenções comunicativas, como parte das condições de produção dos discursos, as quais geram usos sociais que os determinam. (PCNs, 1998, p. 21).

A Nota-se que há um ponto em comum que é o “SEXO” entre a História de Carlinhos protagonista da obra “Menino de Engenho” com a de Michael personagem principal do filme “O Leitor” baseado no livro de Bernard Schlink. Ambos possuem uma forte atração pelo sexo.

Assim como Carlinhos Michael conheceu muito cedo o mundo do sexo, ele se apaixona por Hanna uma mulher mais velha que ele vinte anos a mesma o inicia sexualmente, naquele momento a vida para o adolescente, se resumia unicamente a satisfação da mais prazerosa necessidade biológica: o sexo. Neste contexto podemos observar uma relação intertextual entre as obras.

Portanto constatamos nitidamente a questão da sexualidade precoce na obra Menino de Engenho (Lins do Rego) interpretado e narrado por Carlinhos personagem protagonista, fator esse que é bastante presenciado nos dias de hoje. Mas apesar da gravidade dessa problemática, estamos no caminho certo, esse assunto já está sendo debatido em muitas escolas, está havendo uma conscientização e um envolvimento maior da população com o intuito de amenizar este problema, que se torna tão vergonhoso para uma sociedade como a nossa que se diz democratizada.

Embasamento teórico.

Partimos do pressuposto de que uma boa leitura é fundamental para a compreensão e interpretação dos sentidos contidos nos textos. O simples hábito de ler não significa que sejamos bons leitores, é preciso entender o texto para que possamos nos comunicar e usufruir dos conhecimentos adquiridos por intermédio da leitura. Em “Menino de Engenho” nos deparamos com uma leitura agradável e de fácil compreensão.

Todo texto se organiza dentro de determinado gêneros em função das intenções comunicativas, como parte das condições de produção dos discursos, as quais geram usos sociais que os determinam. (PCNs, 1998, p. 21).

No nosso trabalho de análise de obra, valemo-nos dos aspectos das ideologias da AD para a realização do mesmo.

“Althusser (1970) parte do pressuposto de que as ideologias têm existência material, ou seja, devem ser estudadas não como idéias, mas um conjunto de práticas materiais que reproduzem as relações de produção. Trata-se de um materialismo histórico, que da ênfase a materialidade da existência, rompendo com a pretensão idealista de ciência de dominar o objeto de estudo controlando-o a partir de um procedimento administrável aplicável a um determinado universo, como se a sua existência se desse no nível das idéias”.

Para compreendermos melhor os fundamentos do discurso dentro da AD utilizamos a seguinte definição:

Em seu a ordem do discurso (Foucault, 2001) defende a hipótese de que em toda a sociedade a produção do discurso é simultaneamente controlada, selecionada, organizada e redistribuída por um certo numero de procedimentos que tem por papel exorcizar-lhe os poderes e os perigos, refrear-lhe o acontecimento aleatório, disfarçar a sua pesada, temível materialidade (p. 8-9).

A sexualidade precoce termo que por foi nós analisado, encontramos situações de difícil entendimento como a questão que leva um ser humano ainda na fase inicial da sua vida se envolver no mundo do sexo, Freud foi de fundamental importância para chegarmos a um melhor entendimento a respeito desses fatores. Freud em 1905 escreve três ensaios para uma teoria sexual; um deles é intitulado A sexualidade Infantil, ele mostra nesse trabalho que o impulso sexual humano- a pulsão sexual – pode ser dividido em pulsões parciais.

Freud demonstra que a pulsão sexual, da maneira como a percebemos em ação em um adulto, é composta de pulsões parciais, e podemos vê-las nas

preliminares de qualquer ato sexual. Antes do advento e do domínio de interesse genital, tais pulsões parciais são vividas livremente pela criança, cujo interesse pela cópula ainda não despertou.

Assim, podemos deduzir que essas pulsões ainda não dispõem de um objeto preciso para o qual possam se dirigir. A criança conduzirá seu impulso para um objeto sexual só quando puder reunir todas as pulsões para conformar a genitalidade.

Outrossim, consideramos essencial o embasamento teórico para o sucesso na realização desse trabalho, pois, os mesmos nos ajudaram a entender melhor diversas situações vivenciadas durante a nossa Análise do Discurso aplicada na obra “Menino de Engenho” de Lins do Rego.





Considerações Finais

Analisando o livro “Menino de Engenho” podem-se encontrar vários temas como: o trabalho escravo, sexualidade precoce, violência domestica, preconceito racial etc. Mas o aspecto por nós abordado foi à sexualidade precoce.

Nota-se a importância desse trabalho, pois, o mesmo nos ajuda a entender as dimensões da gravidade deste fator, que na atualidade representa um grande problema social. Perceber esses aspectos dentro de uma obra literária se torna mais prazeroso, visto que, se tem uma contribuição direta na formação educacional do individuo permitindo ele a entender melhor a sociedade e as problemáticas nela contida.



Referências Bibliográficas:

REGO, José Lins do. Menino de Engenho. Rio de Janeiro, Ed. José Olimpio, 2003, volume 3.



FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini dicionário da língua portuguesa. 4. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.



SILVEIRA, Cláudio. SÁ, Márcia Souto. MEDEIROS, Sandra: Fundamentos da Educação IV, Rio de janeiro, volume 1, Ed. Cederj, 2011.



LAPEL: reflexão e práticas Interdisciplinares/ Maria do Socorro Simões, organização, Belém: UFPA/SEDUC/2006.